O Complexo Industrial do Olho de Boi situa-se na frente ribeirinha de Almada nos terrenos da extinta Companhia Portuguesa de Pescas (CPP), compreendido entre a Fonte da Pipa/Jardim da Boca do Vento, a nascente, e a Quinta da Arealva, a poente. Corresponde a uma área de 42.315 m2 (conforme DL nº.342/87, de 28 de Outubro) entre a arriba fóssil e o rio Tejo, com cerca de 370 metros de comprimento por 125 metros de largura no ponto mais largo (ver mapa infra: Planta integral do complexo). Nestes 4 hectares estão instalados os edificado original da antiga CPP com uma área de implantação de 7.537 m2, correspondendo a uma área de construção de 10.902 m2. Desta, cerca 2.584 m2 são tutelados pela Câmara Municipal de Almada (CMA), sendo os restantes 8.318 m2 responsabilidade da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Dá área sob responsabilidade da APA, existem cerca de 3.000 m2 (cerca de 35%) de área devoluta sem manutenção.
resenha histórica
Em 1920, a CPP surge num contexto de expansão da indústria conserveira e piscatória, fundada por quatro pequenos armadores de pesca de arrasto, instalando-se na antiga Fábrica de Algodão da Companhia Lisbonense (Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonenses, no antigo Convento de São Paulo), no Olho de Boi, em Almada.
O crescimento da frota pesqueira da empresa ditou uma racionalização dos seus meios, dividindo as áreas de produção entre a zona ribeirinha de Lisboa (exploração de um cais em Lisboa para as descargas de pescado) e Almada. Nesta margem do rio, foi assim construído um Bairro Social para os operários que laboravam na reparação da frota naval da empresa, um trabalho contínuo de manutenção dos navios. Nele habitavam várias categorias técnicas e respectivas famílias: electricistas, serralheiros, carpinteiros, caldeireiros, desenhadores, pedreiros, pintores. Foram também adquiridos os terrenos contíguos do Olho de Boi e, mais tarde, da Fonte da Pipa. Nesta zona encontrava-se já uma muralha, que permitia a acostagem dos arrastões. O cais da CPP foi ampliado durante a década de cinquenta, época de maior produtividade da Companhia, de modo a facilitar a descarga do carvão mineral para os navios a vapor. Foram também construídos o refeitório e o vestiário. Neste período, a CPP chegou a possuir 25 navios, posteriormente transformados com motor, e 700 trabalhadores numa área total de 4,2 hectares. Na década de setenta foi ainda construída uma oficina de electrónica e de niquelagem. Após o 25 de Abril, a CPP entrou em declínio, reduzindo significativamente o número de trabalhadores, registando 370 em 1984, ano da sua extinção. Em 1987 o Estado adquire a CPP, nomeadamente o seu património e dívidas, delegando a sua gestão ao Instituto de Conservação da Natureza (ICN) - posteriormente à Autoridade Regional Hidrográfica do Tejo (ARH Tejo) e actualmente a tutela está entregue à Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Hoje, parte da antiga CPP passou entretanto para a responsabilidade da CMA que ali instalou o Museu Naval de Almada |
Museu Naval de Almada |
Inaugurado em 1991, o Museu Naval salvaguarda um dos mais importantes acervos da memória e da identidade de Almada, dividido entre a construção naval tradicional, a de ferro e aço, técnicas artesanais de pesca, instrumentos de trabalho na construção e reparação navais.
Uma parte significativa do espólio em reserva foi doado pela própria CPP, uma empresa que no seu auge movimentou um dos maiores tráfegos nacionais de pesca de arrasto de alto mar. O Centro de Documentação localizado no Núcleo Naval divulga junto da população em geral, e da comunidade educativa em particular, informação em áreas temáticas do seu acervo bibliográfico, com destaque para a arqueologia, arte, conservação, construção naval, história, história local, museografia, numismática e património. O espaço de exposições do Museu Naval foi ampliado, mantendo as características do edifício como espaço funcional e de memória da construção e reparação naval. |
O olho de boi hoje
Presentemente o Complexo Industrial do Olho de Boi encontra-se dividido em três conjuntos de espaços: o primeiro, enquadrado entre a Fonte da Pipa, a nascente, e a estrada de acesso a Almada Velha, onde se encontram os edifícios que constituem actualmente o Museu Naval da CMA; o segundo e o terceiro, sob tutela da APA, têm inicio na estrada de acesso a Almada Velha, seguindo ao longo da frente de rio para poente, até à Quinta da Arealva. Um, numa plataforma superior junto à arriba, é constituído pelo conjunto dos edifícios fabris e Bairro Social; o outro, numa plataforma inferior, junto à linha de água, é constituído pelo conjunto dos armazéns e oficinas.
A zona ocupada pelo Museu Naval foi alvo de obras de reabilitação levadas a cabo pela CMA em 1990. Em 2012 tiveram lugar obras de expansão da área expositiva. A zona do Museu Naval permite a ligação do Complexo Industrial do Olho de Boi ao jardim público da Boca do Vento e ao caminho pedonal e ciclável até Cacilhas. O Bairro Social tem hoje cerca de vinte cinco a trinta moradores numa dúzia de habitações num estado de conservação razoável. O restante complexo é constituído pelos espaços oficinais e de armazenagem da antiga CPP, estando apenas ocupados 10 a 15 destes espaços por pequenas empresas e oficinas, ateliers e pescadores locais, que têm contribuído para a manutenção dos espaços. evitando a degradação do património ali existente. Os restantes espaços encontram-se devolutos e sem qualquer manutenção. |
Estado de conservação do património edificado |
A área do Complexo Industrial do Olho de Boi pertencente à CMA foi alvo de reabilitação e reconversão de uso a Museu Naval na década de 90 e, posteriormente, em 2012 com a subsequente ampliação do Museu.
Desde a extinção da CPP em 1984 que o complexo se encontra maioritariamente abandonado e em contínua degradação, com excepção de alguns edifícios (e.g., edifícios do Bairro Social, armazéns 28 e 45) que sofreram significativas obras de conservação por parte dos moradores, das pequenas empresas ali instaladas, do ICN (durante o período em que funcionaram serviços do ICN no Complexo Industrial do Olho de Boi) e da Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente (CPADA). O nível de degradação dos imóveis é maior nos espaços que não têm tido qualquer utilização. Neste momento, da totalidade do Complexo Industrial do Olho de Boi afecto à APA, pelo menos 35% dos espaços encontram-se devolutos, com risco elevado de degradação acelerada. São edifícios que, pela proximidade com o rio e pela quase total ausência de janelas que evitem a entrada de água, se apresentam fortemente expostos às condições metereológicas adversas e consequente erosão. Dos espaços devolutos, muitos foram alvo de vandalismo, tendo sido pilhados, nomeadamente na procura de cobre. Este é um risco que ainda permanece. A prazo, e se nada for feito, o complexo estará condenado à ruína, como já hoje acontece com a Quinta da Arealva. De qualquer forma, para além do aspecto exterior, o estado geral de conservação do património edificado não é gravoso ao ponto de tornar inviável a sua utilização, como aliás atestam as muitas ocupações informais de espaços que foram tendo lugar um pouco por todo o complexo. Os edifícios aparentam-se estáveis, sem deformações estruturais; os telhados encontram-se maioritariamente intactos, tal como as paredes, com ausência de fissuras ou fendas. |
CIOB - Associação do Complexo Industrial do Olho de Boi
A CIOB é uma entidade sem fins lucrativos que visa defender, preservar e promover o Complexo Industrial do Olho de Boi, espaço da Companhia Portuguesa de Pescas.
CIOB - Associação do Complexo Industrial do Olho de Boi
fundada em 2015
NIPC: 513 455 132
fundada em 2015
NIPC: 513 455 132